
Sempre imaginei que um dia seria mãe. “Não dá pra passar por essa vida sem ter essa experiência”. Esse era o sentimento. Ao mesmo tempo, ficava muito angustiada pensando em tudo que teria que abrir mão. Me achava egoísta demais pra dar conta.
Resultado: acabei confirmando minhas suspeitas. Ser mãe foi, sim, a melhor decisão que já tomei na vida e não mudaria isso de forma nenhuma. Mas foi também onde encarei duras verdades sobre mim mesma.
Olhando pra tudo que as meninas já me fizeram viver, sentir e aprender, tenho absoluta certeza de que me transformaram num ser humano melhor. Mais consciente de quem eu sou, de como eu funciono e do que eu realmente preciso. E também mais generosa, comigo e com os outros.
Mas, como eu disse, vieram junto duras verdades. Se você é mãe, talvez se identifique.
Como mães somos capazes de expandir imensamente nosso coração. Entregamos até o que nem sabíamos que tínhamos pra dar. É um amor que traz junto tanta força e coragem que nem parece que vem da gente. É tão desafiador quanto maravilhoso. Gerar a vida, nutrir, cuidar e amar incondicionalmente. Um lugar lindo, que facilmente nos transforma em “HEROÍNAS”.
Mas foi nesse papel, o de heroína, que em certo momento me perdi. Me perdi dos meus limites e de mim mesma. Sabe quando fazemos sempre pelos filhos primeiro? Depois pelo marido? E, com o tempo, por mais gente que vai entrando na lista? Pois é… Sacrificar-se pelos outros traz méritos. Quando isso é feito pelos filhos, merece destaque especial. Quantos dos nossos “sim” e “deixa que eu faço” não trazem nas entrelinhas desejos de aprovação e reconhecimento (e uma disfarçada necessidade de controle)? Enquanto nossa real vontade e/ou necessidade é engolida em seco ou empurrada pra depois.
Já me vi nesse lugar um sem fim de vezes: deixando a “heroína” assumir o comando, ou por reconhecimento ou por controle. E, se me lembro bem, em todas essas vezes um escuro “lado negro” emergiu junto, fazendo todos em casa aguentarem uma mãe insuportável. No fundo era muito frustrante ter que abrir mão de mim pelos outros, inclusive pelas minhas filhas. Mas admitir isso era bem pior.
A sorte é que a vida não desiste de nós tão fácil e às vezes vence pelo cansaço. Ainda estou em processo, mas percebi que admitir minhas emoções é bem mais leve e mais fácil do que sustentar qualquer papel. Quando respeito e acolho o que sinto, quando me permito atender aos meus desejos (mesmo com medo de ser egoísta), fica bem mais leve dar conta do que precisa ser feito. E mais equilibrada a relação do dar e receber em família. Seu eu estiver bem, minhas filhas ficarão bem.
A verdade? Todo julgamento de “preciso” ou “não posso”, de “certo” ou “errado”, sempre veio de mim mesma. Da necessidade que eu tinha de viver uma maternidade perfeita (que nem existe). De limites e dificuldades que eu mesma impunha. Resultado de uma enorme insegurança e necessidade de controle que a vida inteira me acompanham.
Outra verdade? Abrir mão da aprovação dos outros passa por descer do pedestal. Passa por humildade e vulnerabilidade. A maternidade nos empodera e traz junto um amor sem fim, mas não nos faz indestrutíveis, nem superiores, nem autossuficientes. Pelo contrário, quanto mais cuidamos dos que amamos, mais precisamos de amor para restabelecer nossas forças. E o amor próprio é o mais importante deles. Sinto que não é egoísmo, mas uma questão de equilíbrio. Minha sugestão: experimente.