Por que ainda estou aqui?
Por que permaneço sentada nessa pedra que me fez tão triste? Nesse lugar que desperta tão profundamente a dor no meu peito?
Sei que há muito já passou da hora de me levantar e seguir. Já cresci. Ajuizei. Mais do que deveria até. Já subi ao altar e sei até o que é ser mãe. Passeei do outro lado do mundo. Caminhei, caminhei e tive que voltar. Mudei de ideia um monte, já vibrei muito e também bati a cabeça de doer pra valer.
Já me senti a toda poderosa. Acima da média. Especial. Mas aqui estou eu, sentada nessa pedra. Sentei porque precisava muito parar. E me dei conta que já havia sentado aqui antes. Em um tempo que ficou bem pra trás. Foi pra lá que a pedra me fez voltar.
Sinto que estou colada. Incapaz de me mover. Fraca. Pequena de novo. Totalmente triste e insegura. Me mover daqui parece simplesmente a coisa mais difícil a fazer.
Já achei um monte de porquês. Mesmo assim, não consigo levantar.
O que ainda me mantém aqui? Medo? Do quê, além das razões que já descobri? A zona de conforto? Estou gostando de estar aqui? Será que estou onde deveria estar? Talvez faça sentido ficar. Ou ainda não estou pronta pra seguir? Se é isso, o que falta?
Sinto que deixei minha coragem pra trás, perdida em algum lugar. Ou foi ela que resolveu passear e esqueceu de voltar? Será que esqueceu de mim?
Ainda sou aquela menina que, sentada na pedra, esperou uma eternidade até o pai voltar. Desesperada por ser levada pra casa de novo. Tudo o que eu queria era aquele abraço quente e seguro. E um “Vamos? Senti muito a tua falta também.”
Ok menina linda, dos olhos azuis e cabelos de luz. Precisamos de mais uma conversa. Só eu e você.
Na verdade, proponho um trato.
Prometo te ajudar com esse buraco, essa dor. E também com a coragem que você acha que perdeu. Em troca, você faz a sua parte: tenta reaprender a confiar. Confiar em mim. Em nós!
Acredite, sinto desde sempre o que você sente. E mais: prometo que nunca se sentirá abandonada de novo, porque daqui pra frente, pra onde quer que eu vá, você vai comigo. NUNCA MAIS TE DEIXAREI PARA TRÁS.
Vamos, me dê sua mão. Não é a pedra que prende você. O que te impede de seguir é seu peso. O peso do seu coração, que parou de brincar. Que tal a gente cantar? Olhar as borboletas e as nuvens que passeiam no céu? Sentir o vento bater e lembrar do quanto é divertido correr. Isso! Um suspiro, algumas lágrimas e um sorriso. E já conseguiremos levantar.
Olhe ao redor. Uma boa olhada. Nada te prende. Nada te limita. Não há ninguém dizendo o que você pode ou não fazer. O que você pode ou não sentir e ser. Menos ainda apontando o caminho que deve seguir. Tudo isso é seu. Pra só você decidir e escolher. Carregar junto ou soltar. Tome nas mãos e assuma a direção. Mas primeiro, ouça a ele: o coração.
Pra onde ele quer te levar? O que ele tem vontade de fazer?
Nenhum problema em temer. Diz o sábio que coragem não é a ausência do medo. Aliás, vou te contar um segredo. Sua coragem não se perdeu. Ela está bem aí dentro, em algum lugar. Você apenas a deixou adormecer, de tão ocupada que ficou com o medo e a tristeza. É só respirar bem fundo, estufar o peito e chamar. Mas com vontade. Que rapidinho ela responde, pronta pra de novo te acompanhar.
E se lá na frente cair e tiver que recomeçar, tudo bem. Basta apenas de novo perguntar: “E aí coração? É aqui mesmo que devíamos estar?” Ele é o melhor dos companheiros e a bússola mais confiável. A casa da coragem e o melhor lugar pra você se abrigar.
Agora me dê a mão e seguiremos. Pé direito primeiro. Deixemos a pedra, que a diversão precisa recomeçar!